Saturday, August 11, 2007

Há alguns meses atrás, eu cheguei à triste conclusão de como o vazio, o abandono e as despedidas doíam. E por semanas a fio esse vazio enorme me corroeu a alma. E eu sofri, chorei e doí. Tudo que tinha para doer. A cadeira já não balança como antes, o perfume passou a ser apenas um frasco com líquido colorido e cheiroso, as roupas viraram centímetros de tecidos costurados com linhas de saudade.
Saudade.
Sempre me disseram que o melhor e mais duro remédio para tudo era o tempo. Sempre ouvi isso. E eu sempre pensei que era a maior história de quem não tinha cara de resolver as coisas. Mas, nesses mesmos alguns meses, eu descobri que o tempo era a maior das verdades. E com esse mesmo tempo, os laços que eu possuía, e que foram demoradamente amarrados e apertados a quatro mãos, foram sendo desfeitos, como se fossem frágeis e efêmeros. E eu que pensei que eram tão fortes, que chegavam a sufocar, sucumbiram com esse mesmo remédio, o tempo.
Fragilidade.
Então, depois desses alguns meses, descobri que o tempo me tornou livre. De tudo. De mim. Dos outros. E hoje, a tristeza, a saudade e a felicidade estão comigo. E estão de uma forma plena, de uma forma que eu aprendi a construir, por um sentimento que eu aprendi a sentir.
Liberdade.
Há alguns meses eu decidi pegar uma das minhas mochilas enormes e encher de lembranças, sorrisos, segurança, carinho e amizades. Guardei-a junto com as fotos, os cartões antigos e meu senso de humanidade. Comigo, hoje, carrego apenas os melhores amigos. Mas os de verdade. E eles são felizes comigo e eu amo estar com eles. Tipo crianças, os sorrisos são sempre verdadeiros e os abraços são sempre os mais sinceros. E, com eles, entro numa atmosfera única, criada por todos esses risos, abraços, salgados e doces ao fim das tardes.
Magia.
Nesses alguns meses eu acabei vendo como sou muitos dentro de um só. Filho, pai, namorado, amigo, ouvinte, protagonista, coadjuvante, até mesmo figurante deixado pra trás. E sempre retorno ao ponto de partida, um roteiro gasto, batido, que já sei como será o fim. Eu faço cinema. Multiplicidade.
Há alguns meses, eu disse que o vazio estava doendo. Hoje, aprendi a conviver com o eco de uma casa e um coração vazios, e esse eco não dói mais.
Anestesia.
Hoje, amanhã, depois de amanhã, semana que vem... eu deixo gradativamente o mundo pra trás, em busca do colo que perdi, dos sorrisos que não dei, dos afagos no cabelo que não recebi. O mundo vai se tornando uma enorme bola azul que aprecio lá de cima, sem hesitar em estar indo embora ao encontro do que eu realmente conheço, o Desconhecido. Levo apenas minha mochila com salgados, amigos de doces e amargas confissões e um coração casando de voar baixo, ansioso por um universo que o espera.
Coragem.
Hoje, deixo esse planeta vazio pra trás.