Wednesday, November 12, 2008

Ela acabou de atravessar a porta que estava sendo vigiada por dois seguranças. Lá dentro, haviam luzes de todas as cores, piscando por todos os lados, numa tentativa de clarear aquele universo alucinógeno, torpe. Ou elas piscavam para iluminar o seu mundo particular?
O clarão dos canhões revelava seu pálido rosto infantil, agora corado de maquiagem, maravilhado com aquele cenário lúdico, que mais parecia muitos vaga-lumes no fim de uma tarde, como aquelas que ela vivia quando era pequena. Era como se ela tivesse encontrado um novo elixir, agora mais forte, mais potente. Sim, ali, ela era uma mulher. Viva, que sentia seu coração pulsar conforme aquele espetáculo de cores.
Nas paredes negras, círculos alaranjados que pareciam dançar entre si ao som daquela música atormentadora, que tinha o poder ditador de fazer toda e qualquer tristeza calar-se, diferentemente daquelas suaves, aconchegantes, que fluíam do velho rádio, sepultado no seu quarto.
Tomou um gole do líquido transparente, de cheiro forte, que lhe deram em um copo com gelo, e sentiu um gosto extremamente amargo na sua boca, que confundia seus sentidos e a levava para o alto, como um abraço misterioso de uma energia até então desconhecida por ela. Por alguns segundos, sentiu um medo inexplicável, que foi rompido pela lembrança das frases soltas que ouvira antes de entrar naquele universo composto por luzes, cores, sons e sabores, os quais ela nunca havia provado.
De repente, a maquiagem bem feita que cobria o rosto angelical da menina, e roubava toda sua inocência, começa a derreter conforme as lágrimas começavam a descer. Mas, por que estava chorando? Pensou... Afinal, ali era um lugar que exalava e transbordava alegria! Mas ela não pertencia àquele mundo... Aos poucos, ela foi descobrindo o lado sombrio daquele espetáculo de luzes, e sentiu uma vontade imensa de voar. Suas asas poderiam levá-la bem mais alto que todo aquele vazio, todo aquele sofrimento. Queria sentir o vento bater em seu rosto, seguido de um beijo, ou quem sabe um abraço protetor.
Sim, naquele momento, ela precisava se sentir protegida, respeitada, amada como nunca foi. Como ela poderia sair daquele mundo sem nexo, sem lógica, cheia de círculos alaranjados que serviam como fechaduras?
A vida é bem mais que isso, pensou ela. Fechou os olhos e sonhou. Sonhou. Sonhou.