Abraçou-o com toda a sua intensidade. Seu coração batia forte e seu corpo tremia, evidencando seu nervosismo e a importância daquele momento para ela. Ele não pôde deixar de sentir seu pulsar forte e viu o quanto o nervosismo a atingia. Sentiu-se confortada, amada, desejada, feliz por alguns instantes. Seu coração se aqueceu, se encheu de um sentimento nobre, que contagiou sua alma em alguns instantes... seria vida?
Ela pediu para aqueles momentos não terminarem jamais... Mas o tempo não perdoa. Ele se foi. ficou apenas o cheiro, o gosto, a lembrança daqueles minutos únicos. Sorria desesperadamente, sem saber por que estava sorrindo. Achava-se estranha, bizarra por estar feliz. Como podia?
Precisava se olhar, ver o brilho que se hospedara em seus olhos! Correu para diante do espelho mais próximo. Impressionante, logo o espelho, de quem ela sempre fugira... Era verdade. Seus olhos pareciam duas velas que voltaram a acender-se, cheias de esperança e vigor... ela estava viva!
Voltou ao encontro do seu amigo e, no caminho de volta, viu o ser que pusera o brilho em seus olhos depositando o mesmo brilho nos olhos de outro. Nesse instante, a chama, que até então se mantivera viva, estava se apagando, talvez porque tenha sido molhada com a tímida lágrima que caiu dos olhos, agora já apagados. Percebeu que mais uma vez caíra nos sonhos vãos de sua eterna carência e da sua inocência boba. O mundo não a ama. A vida não esquece de lhe dar seu sofrimento diário. O destino a quer seca, sozinha, falecendo aos poucos no seu mundo imaginário, bizarro, escuro, frio, sujo, de onde ela nunca vai sair.
Todas as coisas boas que ela sentiu por alguns instantes, alguns minutos, alguns segundos, todo o encanto, toda a cor, toda a vida, saltaram dos seus olhos e tomaram de conta do outro ser, felizardo, escolhido, especial. Sentiu seu coração chorar. Mas, o que poderia fazer pelo seu coração, se ela mesma estava chorando e morrendo aos poucos? Restava deixar tudo aquilo para trás e partir de volta para seu mundo imaginário, bizarro, assustador.