Friday, June 8, 2007

Noite quente, calor, suspiros, lembranças. A lua resolve se esconder, numa tentativa de se esquivar do testemunho da sofreguidão humana, e o vento soprar por sobre as águas do mar, distantes dali. Uma mistura de bucolismo e melancolia. No quarto, ali está ela, a esperar as palavras certas, como uma criança anseia um presente no Natal. O papel em branco à sua frente, pronto para receber o vendaval de sentimentos que está preste a sair.

Ao fundo, o rádio cansado de libertar palavras bonitas e, talvez, de escutar, sempre silencioso, seus sussurros agoniados em direção ao nada que inundam seu universo de quatro paredes. Ou talvez, quem sabe, seu universo fosse bem maior do que aquele resumido cárcere de portas abertas? Há flores em tudo o que vejo. Perguntas.

Aos poucos, o universo branco, até então intocado, foi-se preenchendo com amores, ódios, rancores, prazeres, em um ritual sublime no qual tudo parecia síncrono, onde as palavras dançavam ao som da gasta caneta, impelida pela mão delicada, que ostenta a amarga medalha da melancolia nas cicatrizes nos pulsos.

O papel estava, finalmente, repleto de flores, das suas flores. Mas flores de plástico não morrem! Por que, então, as suas estavam morrendo? Para quem ela escrevia? Perguntas.

Flores têm cheiro de morte, e são mais perfumadas quando estão morrendo, pensou. Estaria ela, então morrendo? Isso porque flores morrem para que outras nasçam, talvez mais bonitas. Sim, o papel, agora vermelho-sangue, exalava o suave perfume da morte. Flores de plástico renascem? Perguntas.

4 comments:

Unknown said...

É a minha primeira visita em seu blog. Achei o texto muito bem escrito e vc se expressa bem. Vou adicioná-lo aos meus favoritos e passarei por aqui mais vezes.

Parabéns! Camarada. Hoje está cada vez mais difícil encontrar bons blogs. É tudo "copy/paste".

c said...

Adorei.
Lindo demais!!!!
Vou linkar vc ao meu, ok?

Paula Negrão said...

Vim agradecer a visita e adorei isso aqui.
Lindo texto.
Profundo, tocante.

Perguntas sempre existem, e não se calam.
Flores, sempre morrem.
As de plástico, ficam velhas e sujas.


beijos.

Flaveetcho said...

Flores de plásticos não morrem, mas também não têm vida.

E o que fazer pra isso mudar?!
Hmm... Que tal um jardim?!

=]